quarta-feira, 3 de junho de 2015

Coragem, coração!

O conflito se instalou No cerne do meu peito Mas dele desabrochou Uma linda flor Irradiando o amor mais perfeito. Um pequeno instante revelou Que na dor somos maiores do que supomos Que com a mão estendida e com fé na vida Superaremos os maiores obstáculos Por aqueles que amamos. A flor desabrochara e de seu miolo exalava O perfume mais intenso. Suas pétalas lustrosas num impulso se abriram E do coração que pulsava ritmado Um enorme feixe de luz foi lançado. A direção era certa E o feixe um longo caminho percorreu Penetrando no mais íntimo do outro ser Que com tamanho carinho o acolheu. Seu coração incendiava E em seu peito finalmente a paz reinava Pois a certeza do intento Trazia o tão desejado acalento... A luz se expandiu por todo o seu ser Que foi capaz do medo derreter E no processo, redescobrir Que a cura certamente está por vir. Tenha fé, cultive o amor Pois não há nesse mundo certeza maior De que a dor trará mais tarde O tão sonhado amadurecimento. Seja forte, vença a si mesmo Sua força se esconde nas entranhas dos seus medos Mas a paz que vem de dentro É sua cura, seu mais valioso sentimento.



OBS.: Escrevi essa poesia para uma grande amiga que enfrentava um momento difícil, mas acredito que muitas pessoas podem se identificar. Espero conseguir levar algum consolo a quem, da mesma forma, está enfrentando um momento de crise.
E, para complementar, fica uma música do Ney Matogrosso muito relacionada ao tema, que é um artista que inspira imensamente a minha vida.







domingo, 17 de maio de 2015

Escrevo.




Escrevo.
Algo surge dentro de mim e grita por atenção plena, por extravasar-se através dos movimentos rápidos dos meus dedos, que teclam descontroladamente e geram uma melodia já tão conhecida por mim. O pressionar das teclas aquece o meu coração tão frio e sedento de calor urgente. Qual algo gélido e pálido, à medida em que o texto se contrói, se aquece e preenche lentamente de cor; de um vermelho vivo, que impregna aos poucos nos pequenos vasos e artérias, reconstruindo o que havia sido perdido em dias de extrema solidão gris.
Como uma abstinência, escrevo porque necessito do consolo das letras, da vida que se forma através das frases, muitas vezes tão repetidas, mas que sempre são o colo para quem está perdida em si mesma e necessita de um tortuoso acalento. Posso sentir o carinho brando das palavras e, ao mesmo tempo, o apunhalar das mais valiosas verdades não ditas. Assim, me sinto plena. Se por dias me mantenho em isolamento e me perco dentro do meu próprio existir, agora sinto que estou aonde eu realmente deveria estar. Meu caminho já traçado, mas ainda oculto, se revela pouco a pouco, à medida que construo a minha escrita, o meu próprio existir. Somos unos, parte de algo que maior que se dissipa no ar cada vez que nego o meu destino, o sentido do meu ser.
Nego o meu caminho, o meu consolo; nego aquilo que me traz paz e alegria. Nego porque temo ser gigante, maior do que sou capaz de imaginar. Aceito a intranqüilidade, a dor de cada dia, o aperto sem fim que preenche a minha existência tão vazia, mas tão repleta, que extravasa de versos, estrofes e palavras não rimadas. Na escrita, ela se colore de arco-íris e um mundo mágico se abre diante dos meus olhos semicerrados, fechados pelo tempo, pela falta do tempo, pela falta de mim.
Me perco no mundo da carne. Me desassossego e nesse descompasso redescubro que o meu mundo está além das aparências, dos dissabores da matéria, dos encantos inimagináveis do ter. No movimento contínuo de existir, dessa necessidade constante de viver, busco na minha fragilidade o mundo paralelo das palavras. Me encontro em cada linha, em cada movimento abrupto de escrita, e finalmente me reconheço e posso me reencontrar. Cada letra se desprende do mais profundo que existe em mim, e aos poucos vou deixando meus pedaços por aí, em cada folha rasurada, em cada palavra materializada.
           A junção das letras é o meu caminhar. Junto meus pedaços que deixo pelo espaço, pelo tempo. Formo palavras e me reconstruo, pouco a pouco, e desabrocho em um longo texto finalizado.

            Escrevo porque sou escrita.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Fim

Era um pequeno espaço onde podia, calmamente, observar o céu e a natureza, ainda que, em parte, morta pelo tempo e pelos homens. Gostava de seu pequeno canto, as vezes tão claustrofobico quanto sua própria alma, mas sabia que, ali, poderia desfrutar dos momentos mais verdadeiros. Se sentia perdida, mas isso não a impedia de buscar novos caminhos e se aventurar nas suas entranhas, que tanto repudiava. No fundo sabia que era, ela mesma, o seu próprio porto seguro. Não sabia por que, naquele momento, a angústia havia desaparecido do seu coração. Ela era sua companheira constante e, ao mesmo tempo em que a torturava a todo momento e fazia com que se perdesse em si mesma, era ela a sua melhor amiga. Podia contar com ela mesma e suas mais confusas contradições. As folhas se moviam lentamente e ao sopro cálido do vento. Em uma grande árvore, viu uma pequena flor desabrochar. Era branca, e talvez representasse a paz que sentia naquele momento. O silêncio, quebrado somente quando o vento agitava as folhas das árvores e se materializava em um pequeno sopro, deixava o seu coração tão tranquilo quanto, há muito, não sentia. Era um momento em que podia se libertar das próprias amarras que a prendiam em sua realidade. Sentia seu coração pulsar forte e, assim, podia perceber que estava viva; talvez mais viva do que gostaria. O ar era pesado como chumbo e doía ao invadir os seus pulmões, que se enchiam e esvaziavam tão rapidamente quanto o movimento de sístole e diástole. Estava exausta. Queria se libertar de tantas amarras dos seus próprios conflitos, que pareciam nunca ter fim. Observou, novamente, a sua flor da paz. Era a flor mais bonita que já havia visto. Percebeu que podia alcançá-la e, em um movimento rápido, arrancou-a de sua fonte de vida. Estava morta agora, e, por um momento, observou-a novamente. Suas pétalas eram tão brancas, e reluziam uma paz inexplicável. Inspirou, de olhos fechados, seu odor adocicado se sentiu uma tranquilidade tão intensa como há muito não sentia. Olhou-a novamente; estava morta. E percebeu que, naquele momento, a sua dor também morrera.

Escrito em: 13/09/2014

domingo, 10 de maio de 2015

O alçar de um grande voo


No caminhar lento do dia-a-dia, observo paisagens bonitas que resplandecem de um brilho inigualável. No caminho das pedras, que tanto se faz temeroso, posso perceber ao meu redor inúmeras aves tão semelhantes a mim, que alçam voo devagar nas primeiras horas da manhã. Algumas delas, quando em seus ninhos, ainda tão pequenas, se alimentam diariamente de calor e de amor, que seriam capazes, somente eles, de torná-las grandes aves um dia; dia este em que poderão alcançar a liberdade tão desejada. Outras, já maduras, refletem cores e desenhos dos mais diversos e se deliciam da paisagem, que apesar de tristonha e gris, é sua morada mais acolhedora. E, voando derradeiras, podem desfrutar de toda a liberdade que, vencendo os obstáculos, puderam conquistar.
Me percebo como uma pequena ave e alço voo no ritmo do vento, que se assemelha a uma brisa leve, e me permito levar para qualquer lugar, pois deposito em sua direção toda a confiança de que necessito para chegar cada vez mais longe. Vejo em meu caminho flores e rios, céu e estrelas, nuvens e um imenso brilho que aquece todo o meu ser. Estou em completa comunhão com tudo o que me cerca, tudo que me passa, tudo que me vive e me torna ainda mais presente agora.
Chego a um grande vale, cercado por um rio que caminha lento e quase sem direção. No alto do cume de uma grande montanha me aconchego, observando tudo que está ao meu redor. O vento brando me levou até onde eu deveria chegar. Do alto, percebo todos os sons movimentos que me cercam, desde o mais singelo correr do rio e cantar das aves, e posso ouvir o som do silêncio que ecoa por todos os lados. Durante dias observo a paisagem, absorta e preenchida por uma grande alegria, desfrutando o prazer da liberdade, da minha própria libertação. Por algumas vezes o vento se transformou e, voltando à direção contrária, de brisa suave se transformou em um turbilhão, quase capaz de me levar de volta a um mundo que não almejava mais retornar. Por dias estive firme no alto do cume, com os pequenos pés cravados nas pedras, certa de que era ali onde eu deveria estar.
Repentinamente, o vento sopra e sinto que com ele posso me deixar seguir. Chego, então, ao meu destino final: imersa entre as nuvens, o caminho é pleno de uma tranqüilidade indescritível, e me sinto preenchida de uma enorme paz que abranda todo o meu corpo. Não percebo o correr do tempo; apenas desfruto do meu voar pleno e seguro, pois em mim persiste, mais do que a certeza de chegar a algum lugar, a alegria do caminhar. E, assim, percebo que é ali onde devo estar. Não temo os destinos, não me prendo a terra firme; sou livre e alcanço, a cada dia, a paz que por tanto tempo busquei. 

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Poesia: Rotina




"O caos da rotina
O tempo que corre
E não passa...
Devasta.

A paz que se encerra
Em um sorriso sincero
Um gesto amigo
Que toca o coração partido
[em tantos pedaços que não consegue se recompor]

O sol que desponta
Mas logo se esconde
Entre as folhas que bailam
No vento ensurdecedor de silêncio.

(...)

Sorrisos nos rostos amargurados são vistos
Desabrochando na aurora do dia
Enquanto ainda não chegou o gélido vento
da tarde de outono.

A cidade laranja se colore de sol
Como em uma pintura emoldurada na sala de jantar
Que vela segredos
Que nenhum centavo é capaz de pagar.

(...)

O silêncio rodeia as vidas vazias
Reunidas entre banalidades cotidianas contadas
[e outras não ditas]
Entre olhares desconfiados e inanimados
Carregados de culpa e de temor
De tamanho desamor..."



Escrito em: 04/05/2015


domingo, 3 de maio de 2015

Sobre autoconhecimento e estilo pessoal

No caminho da busca constante pelo autoconhecimento às vezes surgem algumas questões que parecem simples, mas são permeadas de uma grande complexidade. Somente quando nos dispomos a compreender como um todo o processo que estamos vivenciando é que podemos agir diante dos nossos questionamentos para solucioná-los.
As minhas leituras sobre minimalismo têm me tornado, a cada dia, uma pessoa mais equilibrada, tanto no sentido material quanto no sentimental. Colocar em prática o minimalismo é ser capaz de valorizar aquilo que realmente importa para você. É aprender a deixar de lado o que nada acrescenta para abrir espaço ao que é essencial.
Um dos questionamentos que apareceu de forma muito evidente foi relacionado ao meu estilo pessoal. Se o nosso estilo é a forma como nos apresentamos para nós mesmos e para o mundo, o que estamos transmitindo? Nunca havia pensado no assunto de forma tão aprofundada, mas quando comecei a refletir, percebi que uma das únicas coisas que ainda não havia buscado conhecer nesse processo era o meu exterior. Ele é parte de mim e não deixa de ser importante, apesar da ênfase que busco dar ao meu interior. Portanto, não há separação. Quando começamos uma transformação interna profunda, ela inevitavelmente se exterioriza.
Após muitas reflexões - que me atordoaram por dias! - utilizei os preceitos do minimalismo para me auxiliar nesses questionamentos. Percebi, então, que meu exterior era estranho a mim, talvez porque antes nunca questionei efetivamente a seu respeito. Por muitas vezes vivemos "no escuro" e não nos damos conta; apenas quando começamos a vivenciar o processo de autoconhecimento percebemos que ele atinge todos os aspectos do nosso ser. Abrir o meu guarda roupas e perceber que não me identifico com grande parte das peças que ali estão me mostrou o quanto vivi sem me conhecer realmente e o quanto tenho desenvolvido a minha capacidade de me conscientizar em relação a tudo o que me diz respeito.
Após dias de intensos questionamentos e de muito tempo sem fazer isso, decidi ir às compras. E, talvez, pela primeira vez, tenha conseguido comprar somente aquilo que realmente me identifiquei. Cheguei em casa feliz e satisfeita, porque diante de tantas "tentações" busquei apenas o que me era necessário e útil; aquilo que realmente me agradava.
Consegui, assim, colocar em prática, mais uma vez, o minimalismo. Me renovando interior e exteriormente, me desfaço do que não faz parte de mim, deixando vir o que me complementa e acrescenta. 
Depois de vivenciar esse processo que mesmo curto se fez tão longo dentro de mim, sinto que estou cada vez mais próxima de me conhecer integralmente. Decerto não devemos dar maior valor às coisas exteriores, mas não podemos desconsiderar que o exterior faz parte de nós. Por isso, com equilíbrio, podemos nos conhecer melhor e modificar o que nos incomoda sem descartar o material de forma radical, porque ele também exerce profunda influência sobre nós, mas valorizando-o na medida certa. É importante minimalizar a sua influência que ocorre a todo momento para nos tornarmos aliados e não dependentes do que nos é externo.
Me vestir da forma como me sinto bem e confortável comigo mesma, ao contrário de me prejudicar, me indicou outros caminhos para o autoconhecimento que ainda não haviam sido desbravados. Refletindo e agindo com equilíbrio podemos ser quem realmente somos e buscamos ser, independentemente dos padrões sociais, podendo, dessa forma, nos inserir no mundo de forma efetivamente autêntica.

sábado, 25 de abril de 2015

Fluxo da vida

Hoje li um post no Blog da Camile Carvalho (Vida Minimalista) que veio muito a calhar. Já há algumas semanas (ou talvez meses?) estive refletindo muito a respeito do que tenho proposto para mim e do quanto isso pode incomodar outras pessoas que talvez não compartilhem dos meus sonhos ou não depositem neles fé alguma.
A vida está em constante transformação. Disso eu já sabia e sempre senti muito os efeitos, porque por um longo tempo eu não soube como seguir o seu fluxo. Me sentia perdida, sem foco e sem esperanças, pois tudo ao meu redor parecia se modificar e eu continuava ali, estática, sem me mover um palmo. Talvez eu nunca tenha efetivamente permitido uma mudança mais profunda em mim, o que envolve meus objetivos, meus pensamentos, meu estilo de vida. A partir do momento em que me abri para a vida e permiti que chegasse o que fosse necessário para o meu crescimento, me tornei alguém completamente diferente. Digo para mim mesma, porque é somente para quem importa mudar. Certamente devo ser alguém melhor para os outros, mas somente conseguirei atingir isso se for alguém melhor para mim.
Não digo que foi um processo fácil, muito menos que já está concluído, até porque tenho em mim a certeza de que ele é contínuo e incessante, porque faz parte da vida. Sinto que dei apenas um passo nessa caminhada tão longa. Me entregar a práticas espirituais como a Yoga e a Meditação e conhecer cada vez mais sobre Filosofia e Filosofia Oriental me fizeram ter outra visão de mundo e de mim mesma. Se antes me sentia parada diante de tudo que se movia ao meu redor – que é o mesmo que se movia dentro de mim – hoje sinto que posso seguir com a vida e para ela em prol das minhas realizações, tanto espirituais quanto práticas. Carrego comigo mais do que nunca a certeza de que algo maior, Deus, é responsável pelo caminho que irei trilhar, não desconsiderando as minhas escolhas, o meu livre arbítrio. Por isso, basta apenas que eu faça a minha parte e deixe que a vida se encarregue de acontecer da forma que tiver de ser.
Tenho em mim inúmeros sonhos e planos que por muito tempo estiveram adormecidos, pois o medo guiava as minhas escolhas e não me permitia entregar ao que tivesse de acontecer. Talvez algumas pessoas me considerem utópica ou sonhadora demais e vejam isso com desdém, até porque eu mesma já encarei desta forma. Entretanto, se algo ressoa dentro de mim e me dá força e sentido para continuar seguindo, por que por tanto tempo deixei o medo me dominar e as críticas alheias me fizeram desanimar? Nosso caminho pertence a nós mesmos e a mais ninguém. Se o medo de seguir e voar mais alto dominar a cada um que busca ser alguém melhor para si e para o outro, nunca poderemos realmente alçar vôo e seguir adiante; nunca realizaremos os nossos sonhos e, principalmente, a vida não se realizará plenamente, da forma que seu fluxo deve seguir.

Assim, depois de algumas crises e muitos aprendizados, posso afirmar que uma frases tão banais como “siga seus sonhos” ou “acredite mais em você”, que sempre passaram por mim sem conseguir me tocar efetivamente, hoje ressoam e se encarregam de permitir o meu caminhar mais tranquilo. Portanto, se permita. Seja você e siga o seu coração, independentemente do que digam a seu respeito. Busque voar cada vez mais alto, despertar em você suas potencialidades e siga com a vida, deixe que o seu fluxo natural te guie. Não deixe que o medo o abata e o desânimo domine. Tenha fé no futuro e esperança no presente. E acredite: você alcançará o inimaginável.